Entrevista feita pelos jornalistas do GE com as jogadores e campeãs Tânia Maria Pereira Ribeiro popularmente conhecida por Tania Maranhão como é chamada, em virtude do seu estado natal e Andréia dos Santos apelidada como Maycon.
O que a parceria com o Flamengo ajuda para vocês e para o desenvolvimento do futebol feminino?
Tânia: (A parceria) claro que ajuda. Aqui, no Rio, vemos que o futebol (feminino) ainda está carente. Em São Paulo, por exemplo, é mais evoluído. Cabe a nós agora, junto com a Marinha e o Flamengo, mostrar que no Rio de Janeiro também tem potência no futebol feminino.
Maycon: É uma realização, um sonho. Os jogadores têm o sonho de jogar em time grande, não? As jogadoras também sonham em jogar em time grande, em time com as maiores torcidas, como o Flamengo. Vamos honrar essa camisa.
O que ainda é preciso para alavancar o futebol feminino?
Maycon: Precisamos que as empresas olhem para o futebol feminino, que no futuro haverá um retorno. Não adianta você querer ajudar querendo um retorno imediato. Primeiro, tem de lapidar tudo, para no futuro colher o fruto. Difícil entrar alguém para ajudar o futebol feminino. As atletas acabam tendo de se dedicar ao esporte e não conseguem conciliar o estudo junto, quando você vê, os anos ficaram para trás e você não progrediu. Eu e a Tânia tivemos sorte, e também nosso potencial, claro, por termos servido vários anos na Seleção. A faixa salarial é muito complicada. Na Marinha, é uma ajuda que nos times ultimamente não tem. É um privilégio estarmos aqui, mas temos de lutar a cada dia, a cada ano, para nos mantermos aqui. Só tem atleta de ponta aqui. Então temos de brigar para permanecer, porque tem muita gente querendo entrar também, muita gente boa.
Tânia: Como a Maycon falou, de dependermos dos resultados da Seleção, eu acredito muito, hoje, no projeto que a Fifa está fazendo. Na nossa trajetória dentro da Seleção, tivemos muito êxito, apesar de todos os problemas que aconteciam lá. E não queremos só isso. Queremos ver o futebol no nosso país como é nos Estados Unidos, na Alemanha, porque temos esse potencial. Pedimos que acreditem. E eu sempre digo: não vou parar de lutar pelo futebol feminino.
Por que não temos treinadoras mulheres no Brasil?
Maycon: O machismo barra um pouco, né? Há ex-jogadoras que têm suas escolinhas, têm seus trabalhos, mas não têm a oportunidade de estar lá na Seleção. Não adianta pegar um super treinador que não consiga entender a atleta. Uma pessoa que seja da raiz, mesmo que seja ajudando na administração, vai saber lidar, vai entender.
Tânia: Isso é porque no nosso país ainda tem machismo. Tem preconceito. Na própria CBF... Mas acho que a lavagem que está sendo feita agora, com essas pessoas novas que estão entrando, há um outro pensamento, outra cabeça. E com o apoio da Fifa, esse projeto de levar ex-jogadoras para conversar, trocar ideia, já é um avanço, é algo legal, ajuda. Nossa briga é também por colocar treinadoras no futebol feminino. É o que precisamos. Temos de nos espelhar no que dá certo. Lá fora, temos treinadoras mulheres. Está na hora de brigar por isso, aproveitar que a Fifa está dando essa abertura. Tenho certeza de que vamos conseguir.
E o início de vocês no futebol? Até pouco tempo antes de começarem, tínhamos ainda em vigor a lei que proibia mulheres de jogar futebol (decreto-lei 3.199, de 1941, regulamentado em 1965, e revogado apenas na década de 1980)...
Maycon: Sofremos bastante preconceito. Acho que mais pela ignorância do homem. Hoje em dia foi superada na parte dos torcedores. Pessoas para ajudar ainda são muito poucas. As pessoas entram para ajudar só pensando no que vão receber em troca. Por isso que damos mais valor ainda à Marinha, porque abriu uma porta para nós, que já estávamos esquecidas.
Tânia: Escutávamos muito, dentro de campo, coisas como "Ei, mulher tem de ficar na cozinha, atrás do fogão." Só que pegávamos isso e transformávamos em energia positiva. Deixa eles falarem. Um dia vão bater palma para o futebol feminino. Aquilo servia como força, crescimento, para mostrar que a mulher é importante, sim. É o mesmo futebol que o masculino, a diferença é que eles têm mais força e são muito mais valorizados. O futebol feminino está dando, hoje, mais orgulho que o masculino. Porque o que manda neles é o dinheiro, está subindo a cabeça. E no futebol feminino, não. Se você montar um clube e não tiver dinheiro, pode ter certeza de que vamos honrar a tua camisa do mesmo jeito. O que importa é a paixão que temos pelo esporte.
Como é a equipe da Marinha?
Maycon: É uma equipe mesclada. Tem meninas novas, de 20 e poucos anos. E tem as de 40, como a Tânia, e eu, com 38 (risos). As meninas nos escutam bastante, a maioria nos viu jogando, então elas são de perguntar bastante, se preocupam bastante. Se algo está errado, nós falamos, e elas entendem, escutam. É um feedback muito legal.
Como é o calendário da equipe da Marinha?
Maycon: A Marinha sempre tenta fazer parceria com algum clube para nos colocar em atividade. Disputaremos agora o Carioca, o Brasileiro e a Copa do Brasil. Em outubro, tem o Mundial militar, é como as Olimpíadas. Vamos com tudo.
Há quantos anos vocês estão na Marinha?
Maycon: Estou há seis anos. Estou indo para o sétimo. Para mim, é um prazer estar aqui. A Marinha abriu uma porta para o futebol feminino que estava fechada. Então, sempre vemos aqui uma luz no final do túnel.
Tânia: Estou há cinco anos. Vou fazer seis anos em fevereiro. A Marinha é o sonho de qualquer ser humano, colocar uma farda. De suma importância, por ter aberto as portas para o futebol feminino. Só temos a agradecer, por tudo o que eles fazem por nós. A estrutura aqui, nem times de primeira ou segunda divisão às vezes, tem.
A matéria completa no site do GE e por esse link -> http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/07/o-futebol-feminino-e-esquecido-no-brasil-atletas-do-fla-querem-mais.html
Espero que gostem !!
~Melissa